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Sônia Apolinário

OverHop e Mistura Clássica, agora, 'brincam' separados


Tão discretamente quanto começou, terminou a sociedade entre as cervejarias Mistura Clássica e OverHop. Como um casal que se separa de forma consensual, não haverá um rompimento abrupto. A OverHop continuará produzindo suas cervejas na Mistura Clássica. Pelo menos, por enquanto.

Segundo Rodrigo Baruffaldi, sócio da OverHop, “não houve treta”. Apenas a constatação que não dá tempo de “tocar ao mesmo tempo” duas cervejarias. Sobre a sociedade, ele diz que não foi consolidada – iria se concretizar em janeiro. Desde 2017, Baruffaldi respondia já como sócio da Mistura Clássica. No último mês de outubro, foi somente ele quem recepcionou um grupo de jornalistas na fábrica de Angra dos Reis, por conta de um evento comemorativo dos 15 anos da Mistura Clássica. [Veja entrevista feita pela Lupulinário]

“Meu nome ficou atrelado ao da Mistura por conta da minha entrega ao trabalho que estávamos fazendo. Eu ajudava no comercial, no atendimento aos ciganos, que hoje representa entre 10% e 15 % do faturamento da fábrica. Esse trabalho é demanda o dia inteiro, é bizarro. Agora, estou passando o bastão”, afirma.

Na sua opinião, a parceria, como estava sendo realizada até agora, permitiu uma “troca muito bacana” para as duas marcas. Ele acredita que a Mistura ajudou a OverHop a chegar a um público novo e vice-versa. A marca carioca, no mercado há dois anos, nasceu com foco em agradar o público mais especializado. Já a Mistura tinha um perfil mais clássico.

“O grande público tem um carinho muito grande pela Mistura porque começou a beber

cerveja artesanal com a marca. Agora, com o (mestre cervejeiro Marcos) Guerra, estão produzindo rótulos com mais complexidade. Acredito que a OverHop deu essa parcela de ajuda para a Mistura se aproximar desse nicho de consumidor”, comenta.

Para 2019, Baruffaldi conta que a OverHop vai colocar “ao pé da letra” o fato de ser cigana. Isso significa produzir em estados diferentes, para reduzir custos e atender “demanda reprimida” pelo país. São Paulo será o primeiro estado a ser “atacado”. Depois, serão escolhidos um parceiro no sul e outro no nordeste.

Se as colaborativas que a cervejaria carioca está fazendo para a festa de Reveíllon que está produzindo, no Rio, for uma pista sobre futuros parceiros, fiquem sabendo que a OverHop tem rasgado elogios para a gaúcha Salvador Brewing com quem criou uma Sour Juicy IPA com boysenberry.

Também para ser lançada na festança, que acontecerá às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, produziu uma New England Double IPA com a paulista EverBrew.

Ainda neste final de 2018, começou a sair do papel o taproom da marca a ser inaugurado, no início de 2019, no Rio de Janeiro. No mesmo local, irá funcionar o escritório da cervejaria. Segundo Baruffaldi, o taproom vai ajudar não apenas na construção e no posicionamento da marca no mercado carioca, mas também funcionará como local certo para as festas de lançamento dos rótulos da cervejaria, além como ponto de venda de souvenirs.

Baruffaldi comanda a OverHop ao lado do irmão Flávio e do amigo-irmão Rodrigo Barroso. A marca surgiu a partir do hobby dos irmãos. Chegou ao mercado “causando” por ganhar medalhas logo na primeira participação no Mondial de La Bière do Rio de Janeiro, com apenas alguns meses “de vida”.

Isso foi em 2016. No ano seguinte, ao participar do Mondial de La Bière do Canadá (país de origem do evento realizado no Brasil), o sucesso foi tanto que o resultado foi a criação da OverHop Canadá, que continua muito bem obrigada.

Lá, o comando da marca fica por conta dos sócios, o casal Ricardo e Patrícia Rios e a somelier Tatiana Fulton. Com bastante satisfação, Baruffaldi conta que a OverHop Canadá conseguiu, depois de um ano de fila, colocar a Hazy nas prateleiras da rede de lojas do governo (LCBO). Nos locais onde a comercialização é livre, a marca já vende 10 mil litros por mês. Na área de comercialização regulada pelo governo, a expectativa é triplicar a produção para 9 mil litros por mês.

Baruffaldi admite que, em um primeiro momento, os canadenses acham que estão diante de uma “cerveja local”, uma vez que os rótulos estão em inglês e francês. A OverHop Canadá é

produzida lá, mas se considera made in Brasil.

“Quando participamos de eventos, fazemos questão de exibir a bandeira do Brasil. Muitos se surpreendem quando percebem que se trata de uma cerveja brasileira, mas isso não afeta a aproximação com a marca. Ao contrário. O público de lá é muito educado, cabeça aberta, não é fechado. Já somos referência em Montreal e Toronto e produzimos mais em terras canadenses do que aqui no Brasil” afirma Baruffaldi.

Mistura Clássica

Sobre a “separação”, Marta Ribeiro, sócia da Cervejaria Mistura Clássica diz que não houve fim de parceria, mas “mudança de estratégia”. A fábrica, criada há 15 anos, em Volta Redonda, município do Rio de Janeiro, inicialmente, tinha como objetivo apenas fornecer chope para a rede de pizzarias dos donos do negócio, também proprietários de postos de gasolina.

Levou um certo tempo para o grupo econômico perceber que estava diante de um negócio que poderia ser protagonista e não apenas coadjuvante. Aos poucos, a Mistura cresceu. O salto principal foi dado há cerca de dois anos, com a transferência da fábrica para Angra dos Reis, dentro do estaleiro Verolme.

Ampliar a capacidade de produção era apenas um dos objetivos. O grupo vislumbrou a possibilidade da fábrica se tornar parada obrigatória de turistas que visitam a região, com possibilidade de acesso até de barco. Somente este ano, porém, as visitações começaram a ser organizadas e a previsão é que se tornem rotina em 2019. [Aqui, Gustavo Renha fala sobre o projeto, durante evento dos 15 anos da fábrica, em Angra dos Reis]

Ao contrário do que chegou a ser bastante alardeado, ela negou que a Mistura Clássica tivesse fechado sociedade com outras marcas, em negócios que não deram certo. O próprio Rodrigo Baruffaldi deu informações sobre essas parcerias em duas reportagens publicadas pela coluna Lupulinário:

Agora, faz parte dos planos da Mistura, segundo Marta, desenvolver ainda mais a linha de cervejas complexas da marca, “com a parceria de grandes nomes nacionais e internacionais”.

Aqui, a entrevista na íntegra, feita por e-mail:

O que levou ao fim da parceria da Mistura Clássica, com a OverHop?

Não houve fim de parceria e sim, mudanças na estratégia, pois a OverHop continuará suas produções na nossa fábrica e continuará tendo todo o apoio da Mistura Clássica como sempre e agora com mais liberdade para ousar onde quiser.

Que balanço faz do período em que a OverHop esteve à frente da gestão da Mistura Clássica?

A OverHop não esteve à frente da gestão da administração da Fábrica Mistura Clássica pois cada marca tinha sua vida própria, seu mercado e sua forma de agir.

Que rumo a Mistura Clássica vai seguir?

A Mistura Clássica vem seguindo um rumo, há 15 anos e meio. Nós estamos sempre prezando pela qualidade, em busca de profissionais altamente qualificados em suas áreas de atuação, com o objetivo de oferecer a melhor cerveja artesanal e ser um das maiores do Brasil, nesta atividade profissional.

Recentemente, com a chegada do cervejeiro Marcos Guerra, ex-gerente de produção da Lohn Bier, a Mistura Clássica passou a produzir cervejas mais complexas. Essa linha será mantida?

Sim, essa linha será mantida e muito mais desenvolvida com a parceria de grandes nomes nacionais e internacionais, com o nosso cervejeiro Marcos Guerra e nosso consultor Gustavo Renha, ambos com total liberdade para traçar esse caminho.

A Mistura Clássica ensaiou transformar três ciganos em sócia: Beertoon, Suburbana e a própria OverHop. Não funcionou com as duas primeiras e agora a sociedade com a OverHop não se consolidou. O que deu errado nesse modelo de negócio?

Essa informação não confere. A Beertoon teve problemas entre os próprios sócios fundadores e por isso a negociação não foi à frente. Nós nunca fomos sócias da marca Suburbana, apenas produzíamos e comercializávamos seis produtos com o objetivo de, novamente, ajudar um cigano. No primeiro momento em que Marcos e Peixoto, sócios da Suburbana, demonstraram que gostariam de seguir sozinhos, a Mistura Clássica abriu mão dessa parceria.

Pretendem apostar em outra sociedade com alguma cigana?

Estaremos sempre abertos para boas e grandes parcerias.

Este ano a Mistura Clássica completou 15 anos. Como avalia a trajetória da cervejaria até agora?

No início foi tudo muito difícil, porque esse mercado da cerveja artesanal, ainda nem existia (há 15 anos atrás).. Fomos, praticamente, a primeira cervejaria do Rio de Janeiro e temos muito orgulho disso. Nossa marca é muito reconhecida e ganhadora de muitas medalhas em concursos nacionais e internacionais. Tivemos “altos e baixos” como quase todos os negócios no Brasil, Em 2018, reestruturamos a fábrica e, em 2019, os proprietários da Mistura Clássica profissionalizarão totalmente a empresa, tornando-a referência no setor.

Que papel a Mistura Clássica representa, dentro dos negócios da empresa qual a cervejaria faz parte?

A Mistura Clássica foi criada para satisfazer um hobby dos proprietários, mas, agora, e principalmente. a partir de 2019, tornou-se um negócio importante no hall de nossas empresas.

Quais os projetos para 2019?

O objetivo da Mistura Clássica é de se tornar a melhor cervejaria artesanal do Estado do Rio de Janeiro e uma das mais premiadas do Brasil. Tudo isso com a ajuda do público e admiradores da marca e com todo o nosso empenho e dedicação.

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