Mulheres de Chico fazem show para comemorar os 50 anos de "Roda Viva"
Uma música que faz parte do rol de ícones da Cultura brasileira completa 50 anos. “Roda Viva”, do cantor e compositor Chico Buarque, tirou o terceiro lugar do III Festival de Música Popular Brasileira em 1967 e entrou para a História.
“A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar/ Mas eis que chega a roda viva/ E carrega o destino prá lá ...”, canta alguns dos seus versos que poderiam ter sido compostos ontem de tão atuais que soam.
Para comemorar a data, a música vai ganhar uma nova versão carnavalizada pelo bloco Mulheres de Chico. Esse grupo formado por 25 mulheres, há 11 carnavais anima o Rio de Janeiro com um repertório formado somente por canções de Chico Buarque. No dia 16 de setembro, elas se apresentam no Teatro Rival, na Cinelândia, às 19h30, com um roteiro guiado por “Roda Viva”.
Prólogo
“Roda Viva” foi composta para a peça de mesmo nome, primeira incursão de Chico Buarque na dramaturgia. Conta a trajetória de um cantor massificado pelo esquema da televisão. Chico sempre disse que a peça não abordava política. Porém, a direção de José Celso Martinez Correa transformou o texto em um manifesto em prol da liberdade. Resultado: um grupo de cerca de cem pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), invadiu o teatro Ruth Escobar, em São Paulo, espancou os artistas e depredou o cenário. A peça voltou a ser encenada em Porto Alegre, sofreu outra agressão do CCC e acabou saindo definitivamente de cartaz.
Primeiro ato
Roda Viva completa 50 anos na mesma época em que Chico Buarque lança um disco (coisa rara), “Caravanas”, que o colocou na berlinda. Acostumado a ser aplaudido por todos, agora foi acusado de fazer música machista e “datada”, no caso, “Tua Cantiga”.
Segundo ato
E as Mulheres de Chico com isso?
“Chico está mostrando seu novo trabalho aos poucos. É um novo momento dele e temos que ouvir primeiro. As pessoas não têm paciência e julgam tudo de bate-pronto. Tomar uma música, rotular e esquecer tudo o que ele fez e vem fazendo é ser pequeno no julgamento”, afirma a fisioterapeuta Fernanda Velloso, cantora e surdo de terceira do grupo.
Sobre “Roda Viva”, a música faz parte do repertório das Mulheres não é de hoje. São 50 composições ensaiadas, que ficam “disponíveis” para compor os roteiros dos shows. Algumas nunca saem de cena como “Vai Passar”, o “hino das Diretas Já!”.
“É incrível como as músicas do Chico, apesar de fazerem parte de uma outra época, se encaixam perfeitamente no momento atual pelo qual passa o país”, comenta Fernanda.
Primeiro bloco temático do carnaval carioca, o Mulheres de Chico foi formado por Chicólotras assumidas. A primeira apresentação foi feita na Praça Antero de Quental, no Leblon, porque elas tinham ouvido falar que o compositor costumava passear por lá. Atualmente, no carnaval, elas se apresentam na Praia do Leme, para um público de cerca de 70 mil pessoas.
Se ele já viu um show delas, as Mulheres desconhecem. No palco ele nunca subiu, mas já vestiu a camisa do grupo, enviada com todo o carinho, e posou para foto, dando seu aval para o projeto. Sobre o palco, na verdade, um “mascarado” costuma levar a presença do compositor para a cena.
Recentemente, elas foram surpreendidas com um convite para conhecer o campo de futebol, no Recreio, na Zona Oeste do Rio, onde Chico joga toda a semana com o seu time, o Politheama.
“Ele foi muito gentil, mas não falou muito. Ele realmente é muito tímido. Não é tipo. Estava feliz por encontrar algumas de nós e convidou todo o grupo para uma partida de futebol. Nós iremos”, comenta Fernanda que se reveza no vocal com outras três Mulheres.
Toda segunda-feira, elas ensaiam em um estúdio, na Praça São Salvador, no Flamengo. O grupo é formado por médicas, engenheiras, psicólogas, enfermeiras. Todas conciliam a profissão com a carreira artística.
Na opinião de Fernanda, o fato delas carnavalizarem as músicas de Chico já faz com que as
Mulheres sejam inovadoras. Elas também foram novidade no carnaval do Rio por ser um grupo todo feminino. E acredita que, neste momento, essa presença se torna mais relevante por conta das discussões que colocaram o feminismo ainda mais fortemente em evidência.
Final
Para o show do dia 16 de setembro, o roteiro está sendo montado tendo “Roda Viva” como guia. Experimentar as músicas que “funcionam” juntas faz parte do processo de criação do espetáculo.
“Temos um papel legal de divulgar a obra de um gênio. No carnaval, pessoas de todas as idades estão na nossa plateia. Muita garotada nunca ouviu Chico Buarque e ele é um brasileiro que, definitivamente, a gente pode se orgulhar”, diz Fernanda.
Comunic Sônia Apolinário procurou Chico Buarque para repercutir os 50 anos de "Roda Viva", por intermédio de sua assessoria de imprensa, porém, não obteve resposta.
Ouça na Rádio Comunic a clássica versão de "Roda Viva" com Chico Buarque e o MPB4 e uma outra "carnavalizada" pela Mulheres de Chico. Na rádio, também, a polêmica "Tua Cantiga".
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