Musical sobre Clara Nunes retoma temporada em Copacabana
“Deixa Clarear, musical sobre Clara Nunes” começa 2018 com uma nova temporada, no Rio de Janeiro. Produzido e protagonizado pela atriz Clara Santhana, o espetáculo estreou há quatro anos e já foi visto por 200 mil pessoas, em vários estados do país. De 10 a 14 de janeiro, fica em cartaz na Sala Baden Powell, em Copacabana, quando também será lançado o DVD do espetáculo (Biscoito Fino), com trechos gravados em Caetanópolis, cidade natal da cantora, em Minas Gerais.
De cara, Clara avisa para o público que, no palco estão atores representando. Explica também que não vai imitar a cantora, mas se “aproximar” dela. Ninguém deve esperar que a atriz incorpore Clara. Porém, quando chega o momento em que Clara entra em cena com o figurino do qual fazem parte uma peruca com a característica coroa de flores que a cantora usava como um arco, na cabeça, a atriz admite que a energia muda.
“Quando coloquei o adereço pela primeira vez, eu cresci. A peruca com a coroa de flores tem um poder especial. Quando me vi com essa caracterização, me senti enorme. Porém, só uso essa imagem mais para o final do espetáculo. Na maior parte do tempo, fico com meu cabelo natural. Foi uma escolha. Mas com a peruca, sinto uma grande força”, comenta a atriz, de 30 anos.
Foi seu interesse pela cultura afro-brasileira que a levou à produção dessa peça. Quando cursou teatro na Unirio, integrou o núcleo de estudos das performances afro-ameríndias. Alí, se aprofundou na pesquisa de temas relacionados com a cultura afro-brasileira. Foi nesse momento que “encontrou” Clara Nunes.
A atriz conta que, ao pesquisar sobre a cantora, se encantou com a mulher “exuberante, mas simples”, que encontrou. Se encantou também com a forma como ela se colocava profissionalmente, como “uma operária da música”. Mais encantada ainda ficou ao identificar os temas que Clara gostava de cantar: os orixás, os trabalhadores e o amor.
Em 2012, já formada há três anos, Clara estava no auge de sua pesquisa sobre a cantora quando decidiu que faria uma peça sobre ela:
“Eu me arrisquei bastante. Muitos diziam que eu não estava madura para esse trabalho. Pelo
meu tipo físico, jamais seria convidada para interpretar Clara Nunes. Mas eu estava decidida. Levantei a produção do zero. Não tive e nem tenho ainda patrocínio”.
A falta de recursos e a própria simplicidade de Clara Nunes, segundo a atriz, indicaram que teria que montar “algo pequeno”. A vida pessoal da cantora não interessava para a atriz. Assim, decidiu fazer uma “peça poética” onde as músicas seriam pinçadas a dedo do repertório da cantora, para que contassem sua história artística.
Clara admite que fazer essa seleção foi um dos momentos mais difíceis do projeto. Com 1h15 de duração, a peça é composta por 18 canções e conta com a participação de quatro músicos, em cena. No roteiro original, duas músicas que fazem parte da montagem atual ficaram de fora: “Contos de Areia” e “Morena de Angola”. Clara admite que isso o público não perdoou.
No palco, a atriz se desdobra em vários personagens. Além da cantora, ela interpreta o pai e a irmã de Clara, a Dindinha. O músico João Paulo Bittencourt, em dado momento, abandona o violão para se transformar no Chacrinha. Russo, que durante anos foi o assistente de palco do apresentador de TV, é interpretado por Pedro Paes (clarinete/ sax). O percussionista Michel Nascimento faz o Calouro Desafinado enquanto Gustavo Pereira (Cavaco/ percussão) assume a chacrete Gracinha Copacabana.
“Clara falava do Chacrinha com muito carinho. Ele fez parte do auge da carreira dela”, explica a atriz, nascida em Niterói (RJ) e que, desde pequena, decidiu que seria atriz. A música e o canto, porém, sempre fizeram parte da sua rotina pelo fato do pai ser maestro e a mãe tocar acordeon. “Por não ser cantora de formação, meu maior esforço para realizar esse trabalho foi aprimorar o canto. Clara não cantava músicas fáceis. ‘O canto das três raças’ é a música,para mim, mais difícil”.
A peça estreou em 2013, ano que marcou o 30º ano de morte da cantora. Dois anos depois, a atriz foi a Caetanópolis (MG), cidade natal de Clara, e se apresentou na cidade no dia 12 de agosto, data de aniversário da cantora. Na plateia, Dindinha, a irmã mais velha que foi a verdadeira mãe de Clara, após a morte do pai, violeiro de Folia de Reis, logo aos 2 anos da cantora. Muitos trechos do DVD foram gravados lá. A maior parte, porém, registra a temporada feita em Uberaba (MG). Ano passado, nova ida à Caetanópolis para exibir o vídeo. Dindinha, porém, já tinha falecido.
“Dindinha criou o memorial de Clara, na cidade, e acompanhou todo o nosso trabalho sempre com muito carinho”, conta a atriz.
Clara tem planos de integrar o elenco de outras duas peças este ano. Sem, porém, deixar de apresentar o espetáculo sobre a cantora. Ela diz que “não tem porque parar de fazer a peça”, uma vez que ela “adora” fazer a apresentação e o público “gosta de assistir”.
“Não sei explicar meu interesse pela cultura afro. Foi uma paixão forte e está presente na minha vida. Gosto de candomblé e umbanda. Admiro os rituais e sou apaixonada pelos orixás”, comenta a atriz.
Ficha técnica
Idealização e atuação - Clara Santhana
Texto - Marcia Zanelatto
Direção - Isaac Bernat
Direção Musical - Alfredo Del Penho
Direção de Movimento - Marcelle Sampaio
Assistência de Direção - Daniel Belmonte
Iluminação - Aurélio de Simoni
Figurino - Desirée Bastos
Cenário - Doris Rollemberg
Serviço
Sala Baden Powell: Av. Nossa Senhora de Copacabana, 360, Copacabana, RJ
Temporada: de 10 a 14 de janeiro, 4ª a domingo, às 20h.
Ingresso: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Classificação indicativa: livre
Crédito: Leo Gomes
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