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Lúpulos de fazenda de Taguaí são testados em rótulos colaborativos que chegam ao mercado paulista

  • Sônia Apolinário
  • 13 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura

Em uma fazenda em Taguaí, no interior de São Paulo, os proprietários plantaram 1.350 lúpulos de diferentes espécies, em uma área de 6 mil metros quadrados. Três meses depois, fizeram a primeira colheita: 250 quilos de planta seca. A quantidade superou expectativas a ponto de criar problemas de armazenamento. Doar lúpulo para produções colaborativas foi a forma encontrada não apenas para escoar a produção, mas para testar a qualidade da planta. É por essas e por outras que a logomarca do Lúpulos Dalcin está presente em cinco rótulos, atualmente - seriam seis se a primeira produção tivesse sido envasada, ao invés de ter ficado somente no barril.

A iniciativa de plantar lúpulo partiu dos irmãos Dalcin Leandro (esquerda na foto) e Adriano (direita). Apesar de donos da terra, eles moram na cidade de São Paulo, distante 320 Km de Taguaí, onde são proprietários de uma empresa de funilaria e pintura de carros. Eles nem poderiam imaginar como a experiência com carros os ajudaria, no futuro, com os lúpulos.

Leandro conta que, em 2016, começou a produzir cerveja em casa, por hobby. Como o lúpulo é o ingrediente mais caro da receita, “pensou com seus botões” que poderia usar suas terras para plantar lúpulo e baratear suas produções.

“Eu não sabia nada sobre lúpulo, só que eram importados e caros. Um amigo, com quem tinha comentado sobre a vontade de iniciar a plantação, foi a um evento cervejeiro em Blumenau e se deparou com stands de viveiros. Acabei comprando mudas de um viveiro de Santa Catarina”, conta Leandro que contratou um engenheiro agrônomo para implantar o projeto.

A “resposta” das plantas surpreendeu a todos. A colheita foi três vezes maior do que o esperado e em apenas três meses de plantio. Leandro admite que não estava preparado para a secagem e armazenamento de toda aquela quantidade. Guardar lúpulo na geladeira “de um monte de gente” foi uma solução.

Outra foi distribuir. Uma boa quantidade seguiu para o químico Duan Ceola, professor da Escola Superior de Cerveja e Malte, que tem analisado o perfil sensorial dos lúpulos brasileiros para os produtores.

Os primeiros cervejeiros que experimentaram os Lúpulos Dalcin foram da Avós que produziram uma India Pale Lager com arroz vermelho. Recentemente, foi a vez da Goose Island (Ambev) que lançou a Fresch Hop IPA. No momento, a American Amber Ale Febre está em produção colaborativa entre as cervejarias Cuesta e Carranca. Será a segunda experiência da dupla que fez, primeiro, a 40 Graus, uma American Amber Ale com Columbus. O novo rótulo terá um mix de Cascade, Mittelfruh e Chinook.

Segundo Leandro, dentre os cultivares produzidas na Lúpulos Dalcin, o Comet foi o que mostrou melhores índices sensoriais, até agora: 11 de alfa-ácido (os importados costumam ter 8) e 1.87 de óleo.

Ele tem uma tese para explicar a grande produtividade das suas terras: durante mais de 30 anos, foram usadas pelo pai para confinamento de gado. Ou seja, tem esterco acumulado, o que as tornaram muito férteis.

“O que percebo dos nossos lúpulos é que dá um frescor na cerveja, até porque são lúpulos muito novos. O amargor é sutil”, comenta ele que, agora, usa suas próprias plantas nas suas produções caseiras.

Até o momento, os irmãos investiram R$ 110 mil na produção de lúpulo e ainda não tiveram retorno financeiro. Porém, a boa safra animou a família. Eles já correm atrás do MAPA para comercializar as plantas e pensam em ampliar a plantação para outros 6 mil metros quadrados da mesma fazenda.

De todo processo, Leandro afirma que a colheita foi o momento “mais complicado” pela quantidade inesperada e a falta de equipamentos. Se a primeira solução foi pedir tudo emprestado, agora, eles estão construindo suas próprias máquinas. A secadora já está pronta e a primeira parte de uma peladora também. A peletizadora ainda está em fase de projeto. Leandro admite que 20 anos trabalhando com reparos de automóveis estão sendo bem úteis para tirar todos esses equipamentos do papel.

"Eu sou a prova que é possível, sim, produzir lúpulo no Brasil. Talvez a gente tenha que melhorar as plantas, fazendo ajustes na terra com uso de nutrientes. Seja como for, nossos lúpulos terão nossas características, as características das nossas terras. E isso tornarão nossos lúpulos diferentes e acredito que o pessoal lá de fora vai se interessar em usá-los para criar cervejas diferentes”, avalia Leandro.

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