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Sônia Apolinário

SindbebidasMG vai excluir a cervejaria Backer do seu quadro de associados

O Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas vai expulsar a Backer dos seus quadros. A decisão é uma resposta do segmento a declarações feitas pela cervejaria, em uma audiência pública, de que pode haver substâncias tóxicas (no caso, mono e dietilenoglicol) em qualquer cerveja. O SindbebidasMG pediu uma retratação pública, o que não ocorreu. Esta semana, a cervejaria colocou no ar um site para “esclarecimento, informação e prestação de contas das ações da Backer” relacionados com os casos de contaminação da sua bebida.

"Eles foram irresponsáveis”, afirma Marco Falcone, vice-presidente do sindicato, que acredita ter sido um erro de operação que causou a contaminação em várias marcas da Backer, principalmente, a Belorizontina, best-seller da cervejaria.

Ele conta que, logo depois da audiência pública, os donos da Backer o procuraram para pedir “uma oportunidade” para se explicarem. Falcone, então, propôs que fizessem uma retratação pública.

Um dos pioneiros na produção de cerveja artesanal no país, Falcone afirma que o “erro pontual” cometido pela Backer afetou o segmento, em Minas Gerais. Ele observa que o problema passou a ser visto, fora do estado, como “o caso da contaminação das cervejas mineiras”.

“Acreditamos que o caso Backer freou um crescimento futuro do setor. O consumidor entrante recuou. Houve uma queda de vendas de cerveja artesanal nos supermercados. Iniciamos uma campanha para reconquistar a confiança do público e vem a Backer e tenta minimizar suas perdas dividindo o problema com o setor. Eles acabaram dando um tiro nos dois pés”, afirma Falcone.

Com base na sua experiência de cervejeiro e também do que conhece do processo de expansão da Backer, ele supõe que um trabalho “a toque de caixa” teria resultado na contaminação da cerveja da marca.

Falcone explica. Em nove meses, a cervejaria passou de uma produção de 300 mil litros por mês para 1 milhão de litros por mês. Puxou o crescimento do negócio a produção da Belorizontina.

Lançada há pouco mais de um ano, foi idealizada para concorrer com as cervejas mainstream. Segundo Falcone, a empresa usou o principal artifício dos grandes grupos: a inclusão, na receita, de milho, ou seja, cereal não maltado, para baratear a produção do rótulo com o objetivo de tornar o produto mais barato.

Há especulações no mercado que a Backer estaria faturando cerca de R$ 10 milhões por mês. Em um dos textos postados no site Canal Backer, a empresa informa que seu maior resultado, até o momento, foi “um lucro anual de R$ 980 mil, em 2018”. Essa informação foi usada para contestar uma nova ordem de bloqueio, expedida em 19 de março, de R$ 50 milhões. A fábrica segue fechada e 50 do total de 200 funcionários foram demitidos.

No novo site, a cervejaria afirma que "jamais" usou dietilenoglicol. Ao negar deter R$ 100 milhões em bens, afirma não ser uma "empresa multinacional, ou mesmo campeã de vendas no Brasil" e se apresenta como uma "empresa familiar".

Na opinião de Falcone, o grande aumento da produção, em pouco tempo, teria reduzido o controle de qualidade da cervejaria e aumentado a chance de erros de operação. Ele acredita que a contaminação pode ter sido consequência de uma mistura de linhas de produção.

Em fevereiro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) informou que 53 lotes de cervejas da Backer estariam contaminados por monoetilenoglicol ou dietilenoglicol. Em análise em mais de cem amostras de cervejas de outras marcas, o Mapa não detectou presença de substância tóxica.

A Polícia Civil investiga, desde janeiro, casos suspeitos de intoxicação por dietilenoglicol que podem estar relacionadas ao consumo de cervejas da Backer. Até março, foram contabilizadas 42 vítimas, sendo nove fatais.

Apesar de ainda não haver uma conclusão, o responsável pela investigação, delegado Flávio Grossi, já descartou a hipótese de a cervejaria ter sido alvo de sabotagem. Segundo ele, "negligência é umas das linhas que estão sendo analisadas”.

Em Minas Gerais, ao mesmo tempo em que os cervejeiros artesanais promoviam uma campanha para recuperar o prestígio do segmento, janeiro passado bateu o record de chuvas, na capital Belo Horizonte, o que provocou muitos estragos na cidade e, como consequência, diminuição do consumo da bebida. Agora, como em todo o país, os negócios cervejeiros estão praticamente parados. Dono da Falke Bier, Falcone estima que o faturamento do setor despencou 90%.

“É uma crise impensável. Ainda não tínhamos nos recuperado do choque do caso Backer. Nós, produtores de cerveja artesanal, temos processos rigorosos de controle de qualidade. Nunca houve um caso de contaminação de cerveja por produtos tóxicos. A Backer perdeu a noção das coisas com seu crescimento. Porém, eles resolveram cair atirando, contaminando a todos nós. Ao fazer isso, a empresa deixou de ser nosso par”, afirma Falcone.

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