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Sônia Apolinário

#dica de leitura: 'Esse cabelo'

Desde quando foi originalmente publicado em Portugal, em 2015, "Esse cabelo" (editora Todavia) vem traçando um dos caminhos mais originais, sensíveis e afiados da literatura em nossa língua. Isso porque a obra de estreia de Djaimilia Pereira de Almeida dialogava com o romance pós-colonial, o ensaio de identidade, a autoficção e (não menos importante) a tragicomédia. Um novo caminho estabelecido por essa que está entre as vozes mais singulares da literatura contemporânea em qualquer idioma.


“A verdade é que a história do meu cabelo crespo intersecta a história de pelo menos dois países e, panoramicamente, a história indireta da relação entre vários continentes: uma geopolítica”, diz Mila, a narradora de inspiração autobiográfica de Djaimilia Pereira de Almeida.


Nascida em Luanda, Mila é filha de mãe negra angolana e pai branco português. Chega a Lisboa com a tenra idade de três anos e sente-se uma forasteira desde o início. É pela perspectiva do seu cabelo indomavelmente cacheado que a história de Mila entrelaça memórias de infância e adolescência, história familiar e alentadas reflexões sobre o tenso equilíbrio — interno e externo — de uma identidade europeia e africana.


Escrito num estilo que mescla fabulação romanesca com o ensaio, a crônica, o manifesto e a comédia cultural, a obra traz a contribuição única da língua portuguesa a um diálogo global cada vez mais fervente sobre racismo, feminismo, colonialismo e independência. Irresistível de ponta a ponta, amorosa e um tanto irônica, essa é a história da maturidade, em uma nação na periferia da Europa, de uma mulher negra que é considerada forasteira em seu próprio país e não consegue enxergar a possibilidade de “retornar” a uma pátria que, de fato, nunca foi sua.


A autora

Nascida em Luanda (Angola), em 1982, Djaimilia Pereira de Almeida cresceu em Portugal, nos arredores de Lisboa. Formada em Estudos portugueses pela Universidade Nova de Lisboa, é Doutora em Teoria da literatura na Universidade de Lisboa. Em 2013, foi uma das vencedoras do Prêmio de Ensaísmo serrote, atribuído pela Revista serrote (Instituto Moreira Salles, Brasil). Sua estreia na literatura foi com o livro "Esse Cabelo" (Teorema), vencedor do Prêmio Novos – Literatura 2016. Em 2018, publicou "Luanda, Lisboa, Paraíso" pelo qual venceu o Prêmio Literário Fundação Inês de Castro 2018, o Prêmio Literário Fundação Eça de Queiroz 2019 e o Prêmio Oceanos 2019. É autora também de "A visão das plantas" (Prêmio Oceanos 2020) e "Maremoto", entre outros.







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